terça-feira, 17 de junho de 2008

"L&L", Teatro da Cornucópia


Tradução Renato Correia
Encenação Ricardo Aibéo
Cenário Joana Villaverde
Desenho de Luz José Álvaro Correia
Interpretação David Almeida, David Pereira Bastos, Luis Miguel Cintra, Ricardo Aibéo, Sara Carinhas, Sofia Marques e Tiago Mateus


Georg Büchner (1813-1837), singular dramaturgo alemão, autor das peças “Woyzeck”, “A Morte de Danton” e “Leôncio e Lena” e da novela “Lenz”, morreu precocemente com 23 anos de idade, vítima de tifo. Foi um dos adolescentes geniais de vida curta, filho único da poesia, ao lado de Lautréamont e de Rimbaud. A obra de Büchner, tão preciosa quanto escassa, só foi reconhecida e dada a conhecer quase cem anos após a morte do autor.
Hoje é considerado, dentro do teatro universal, um génio, um visionário, um percursor do teatro moderno e de várias tendências que se afirmaram no século XX: o Expressionismo, o Teatro Existencialista, o Teatro do Absurdo, etc.
É citado como referência estética tanto por Bertolt Brecht, como por Antonin Artaud (correntes opostas, porém unânimes em apontar a importância de Büchner). Com uma escrita inovadora, altamente poética e politizada, Büchner utiliza em “Leôncio e Lena” a estética do Romantismo para, servindo-se dos seus recursos, a criticar. Utiliza um enredo romântico para fazer uma denúncia demolidora e satírica contra a falta de espírito público e a tirania absurda dos reis, dos governantes. Nesta obra-prima que é “Leôncio e Lena”, anterior a "Rei Ubu" de Alfred Jarry (tão moderna quanto sua sucessora), Büchner criou aquilo que cem anos após ter sido escrita, Artaud viria a chamar de “realidade poética”. (retirado do programa do Teatro da Cornucópia)

Como já aqui escrevi, ir ao Teatro de Cornucópia é, para mim, sempre um prazer e uma enorme satisfação, mesmo quando sinto que estou sentada há mais de três horas no mesmo sítio!...
Foi lá que fui, em consciência, ao teatro pela primeira vez e foi aquele teatro que acolheu calorosamente o grupo de teatro a que orgulhosamente pertenci quando adolescente.
Por maioria de razão, ir lá ver o habitual bom trabalho de desenho de luz de quem muito admiro e estimo, ainda mais satisfação me deu.
A interpretação do senil rei Pedro a cargo de Luis Miguel Cintra é hilariante, brilhante e totalmente convincente. Assim como a dupla de polícias, tipo bucha e estica, mas agora em altura e não largura. Os cenários, figurinos e o desenho do cartaz estão divinos de tanta simplicidade. A boa disposição impera e diverte. O texto é literariamente requintado e bem escrito. Vale a pena ir ver.
Aborda-se, com humor e eloquência, usando como desculpa a fuga a um casamento real arranjado, o tema do poder sobre um povo versus a inércia e apatia na gestão estéril e cansada desse poder, o contraste entre o egóismo inglório de um rei e a escravidão e pobreza do seu povo, o contraste irónico entre o tédio e a ânsia de reforma de um velho rei e os sonhos, aspirações e idealismo de um jovem princípe que quer mudar o mundo e os destinos do seu povo, desobedecendo ao seu destino que acaba por cumprir.
As restantes interpretações são equilibradas, conseguindo todo o grupo uma unidade muito coerente, interessante e divertida.
Recomendo vivamente.

Lisboa: Teatro do Bairro Alto
De 13/06 a 6/07/2008
3ª a sábado às 21:30. Domingo às 16:00

1 comentário:

JOSÉ ÁLVARO CORREIA disse...

um beijo grande alex!
fico contente que tenhas gostado