Estes três jogos representam três fases das minhas memórias e a ordem está invertida cronologicamente.
Do Colégio lembro-me da ansia de dar o toque (para intervalo) para ir jogar ao mata, ao jogo do lenço e à macaca na varanda/terraço, ou para ir a correr arranjar equipas para jogar às almofadinhas ou para trocar papel de cartas ou cromos de cadernetas...
O jogo do poker de dados faz-me lembrar as temporadas das férias de Verão em Porto Côvo com as minhas amigas de sempre. Jogávamos os dados em qualquer lado, a qualquer hora, por tudo e por nada. Lindo! Tenho saudades de ter e partilhar esse vício....apetece-me retomá-lo.
Agora, nestas férias em família, na sexta-feira santa e no domingo pós-aleluia, joguei com fervor e entusiasmo, o ritual da saudosa e desejada canasta.
Desde pequena que vejo os meus pais e amigos jogarem efusivamente até às tantas da madrugada e desde então que acompanho esse gosto... talvez por isso ou talvez não, rendi-me à devoção a este familiar acto cultural popular.
Há até muitas competições de canasta por aí... mas ainda não cheguei a tanto.
Na verdade, sinto que Pavlov não foi nada tolo quando inventou a associação magnífica da cenoura e do coelho, porque também eu dei por mim a salivar e a ultrapassar psicologicamente o esticão físico da viagem de 380 km para chegar à "princesa das aldeias", pelo prazer e com o "brilhozinho nos olhos" por saber que iria poder jogar canasta.
É meu dever esclarecer que também contribuiram, naturalmente, as SAUDADES dos tios e dos primos, dos passeios a pé pelo campo com giestas e amendoeiras em flor, das saladas de merujes ou de rabos (sim, rabos!) à mesa colhidas no próprio dia, de deixar o carro parado durante dias à porta de casa, de avistar a serra da Vieira e da Marofa, de beber um copo na casa de quem se gosta e até mesmo no bar do castelo de Castelo Rodrigo, sempre iluminado tipo ovni à noite... a Freixeda é fixe.
A canasta também. Tem ciência e exige quatro parceiros que dominem o jogo para a adrenalina estar no ar.
Neste jogo de cartas, a ideia é fazer-se uma canasta, como já se esperava. Uma canasta é um conjunto de três ou mais cartas iguais de quaisquer naipes, acompanhados com os necessários bestes (que são os dois de qualquer naipe ou os jokers), tendo no final que perfazer sete cartas.
Depois, há jogos de manga, há canastões, há blufs, há piscar de olhos, sorrisos, stresses e gargalhadas, há aflições, há nervos, há gritos de prazer e de raiva... é maravilhoso jogar canasta e é um vício de que não abdico.
Desta vez, constatei com naturalidade tal como Pavlov, que não é só na condução que se atesta a personalidade de cada um, também no jogo isso se pode ver sem dificuldade.
E mais ainda, constatei que é preciso espalhar esta notícia porque são poucos aqueles que sabem o que é a canasta e qual é a sua arte.
Faço aqui um apelo para que tentem aprender... e desde já me disponibilizo para ensinar o que sei a quem queira aprender... o pequeno problema é que para tal acontecer, teremos de encontrar pelo menos três curiosos nesta arte.
Digo mais, quem aceitar tamanha façanha, ganha um jantar a quatro na minha casa, seguido de uma partida de canasta, claro.
Aprendam canasta, meus amigos. Espalhem a notícia!